Dona Onésia Sousa e seu Antônio Araújo começaram o dia sobressaltados na última sexta-feira (26). É que eles queriam muito estar presentes na formatura do filho, Carlisson de Sousa Araújo, concludente do Curso de Música, que à noite colaria grau na cerimônia do Campus da Universidade Federal do Ceará em Sobral. O problema: Onésia e Antônio moram no município de Poranga, distante 170 quilômetros de Sobral, e não tinham como arcar com o transporte. Antônio diz que, depois de muito buscar ajuda e não conseguir, chegou a chorar, temendo não estar ao lado do filho em um dos dias mais importantes na história da família.
Depois de muito perrengue, contaram finalmente com a solidariedade de uma pessoa que ofereceu um carro para levá-los, com motorista e tudo. Chegaram ao local da colação antes mesmo de Carlisson e ainda levaram uma das três filhas dele, Ana Clara, de 8 anos. “Para a gente que é pobre e não tem um meio de vida, é tudo muito difícil”, expressa Antônio, aliviado após a “missão cumprida”.
Provações como essa acompanharam Carlisson durante toda a sua jornada até obter o diploma. No primeiro semestre de curso, tendo de pagar aluguel em Sobral, pouco sobrava para se alimentar adequadamente. Chegou a emagrecer quase 10 quilos. “Eu guardava o doce do RU [Restaurante Universitário] à noite para ser minha merenda de manhã, e guardava o da tarde para ser minha merenda à noite. Foi o período mais difícil”, relembra.
Foi época de aflição para dona Onésia, que ficava de coração partido em Poranga. “Ele diz que eu sou dramática, mas não é drama não, é amor mesmo”, declara-se. A situação de Carlisson melhorou a partir do segundo semestre, quando passou a receber o auxílio- moradia da Universidade, que, segundo ele, “ajudou muito”. Perguntado sobre o que espera agora que está formado, responde com sábia simplicidade: “Dias melhores”. E que assim seja. Durante a cerimônia, logo após o esperado momento do abraço carinhoso entre pais e formandos, Onésia jogou para o céu aquele sorriso de quem sabe que, apesar de todas as adversidades, alguns breves momentos fazem uma vida inteira valer a pena.
MADRUGADAS DE TRABALHO ‒ Outro que se superou para chegar onde queria foi Diego Nunes, natural de Hidrolândia e concludente de Engenharia Elétrica. Como o curso é em período integral, trabalhar pela manhã ou à tarde era inviável. A única solução que encontrou foi trabalhar de madrugada em uma fábrica de calçados. Iniciava a jornada às 23h30min e ficava até as 6h30min. Em seguida, já estava no campus para assistir às aulas. “Quando olho para trás, sinto muita emoção por não ter desistido, ter tido persistência e ter conseguido. Hoje é o dia de agradecer a Deus por tudo”, alegra-se. Colega de curso de Diego, Iara de Souza, natural de São Benedito, passou por dificuldades semelhantes. Mas tem uma coisa que, para ela, compensa tudo isso: “Foram cinco anos de luta, mas o brilho no olhar dos pais da gente é o que realmente conta”.
PROTAGONISMO ‒ “Chegou nossa vez de assumir o protagonismo”, enfatizou o orador discente da cerimônia, Abner Sousa Nascimento, concludente de Engenharia da Computação. Para ele, em uma conjuntura de intensificação das desigualdades e de hediondos ataques aos princípios que historicamente regem as universidades, é preciso lutar para garantir que as futuras gerações também tenham acesso ao ensino superior gratuito de qualidade. “Obrigado por manterem erguidos os pilares fundamentais da educação pública”, disse, dirigindo-se a todos os que fazem o Campus de Sobral. Abner, que recebeu o título de Aluno Destaque 2019.1 da Sociedade Brasileira de Computação, destacou ainda a “incrível jornada de autoconhecimento” e o orgulho que sente ao olhar para trás e ver quanto ele e os colegas concludentes evoluíram ao longo dos últimos anos. Ao todo, colaram grau 54 estudantes dos Cursos de Ciências Econômicas, Engenharia da Computação, Engenharia Elétrica, Finanças, Música e Psicologia.
ESPERANÇAR ‒ O orador docente, Prof. Iális Cavalcante Júnior, lembrou que as universidades públicas são responsáveis por cerca de 90% de toda a pesquisa desenvolvida no Brasil. Também destacou que é nesses espaços que os estudantes vivem diferentes experiências, tudo convergindo para a formação de pessoas mais íntegras e de profissionais mais qualificados. Por isso, disse ser preciso empreender “uma luta diária para afastar o obscurantismo que nos permeia”. Por fim, valeu-se das palavras “do tão injustamente criticado Paulo Freire”, que diz: “É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir!”.
SOLO FÉRTIL ‒ O reitor Henry Campos lembrou as origens das atividades do Campus de Sobral, em 2001, na gestão do então reitor Roberto Cláudio Frota Bezerra, como desdobramento do Curso de Medicina da Capital. Na época diretor da Faculdade de Medicina, Henry diz que foi um privilégio participar ativamente da ousada proposta de interiorizar o ensino médico no Estado e de testemunhar seus resultados imediatos. “Não tardou para que fossem abertos novos cursos de graduação e se criasse o Campus de Sobral. A boa semente havia sido lançada em solo fértil, sendo adubada pelo arrojo e pela generosidade do povo desta terra.” Hoje, salientou o reitor, o campus está plenamente consolidado, o que pode ser atestado pela excelência de seus cursos. Ele fez referência especial ao Curso de Odontologia, considerado o melhor do Brasil em sua área.
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Fonte: Coordenadoria de Comunicação Social e Marketing Institucional – fone: (85) 3366 7331
Link da Notícia:
http://www.ufc.br/noticias/13313-colacao-no-campus-de-sobral-historias-felizes-de-quem-se-supera-todo-dia
Link das fotos:
http://encontrocomsaude.blogspot.com/2019/07/prof-henry-campos-conduz-em-sobral.html