Ciclo de colações de grau de 2024.1 é reaberto no Campus de Sobral com a formatura de 54 estudantes

Olhar para si e enxergar o outro, pois somos humanos. Finalizar o curso superior e pensar na transformação coletiva. Formar-se pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e mudar a realidade da própria família e de toda uma comunidade. Fios comuns – e inspiradores! – teceram a trama de discursos enunciados ao público de formandos e convidados que compareceu à solenidade que reabriu o ciclo de colações de grau do semestre 2024.1, na noite de segunda-feira (7), no Campus da UFC em Sobral. 

Ao todo, 54 concludentes dos cursos de Ciências Econômicas, Engenharia de Computação, Engenharia Elétrica, Finanças, Música, Psicologia e Medicina – este representado por um concludente da faculdade em Fortaleza –, estiveram presentes.

Concludentes de sete cursos participaram da cerimônia (Foto: Viktor Braga/UFC Informa)

Um dos mais emocionados da noite era Jonas Alves de Castro, natural de Piracuruca, no Piauí. Ao concluir a graduação em Engenharia de Computação, lembrou, com olhos marejados, do esforço feito por seu pai, que aos 18 anos saiu da terra natal para trabalhar como pedreiro em São Paulo (SP) e proporcionar uma vida menos difícil à família. Jonas contou que, por essa razão, ele e o irmão puderam dedicar suas infâncias aos estudos, superando em suas trajetórias a dureza do labor pesado do pai e da labuta do trabalho doméstico da mãe. 

Em 2018, após a aprovação no Sistema de Seleção Unificada (SISU), viajou com o pai de moto para fazer a matrícula no Campus da UFC em Sobral. Dividiu moradia com colegas, aprimorou-se nos estudos – mesmo nos anos de pandemia de covid-19 –, conquistou bolsa de Iniciação Científica e hoje, ao concluir a graduação, já é profissional contratado como desenvolvedor de sistemas na mesma empresa que o recebeu como estagiário em 2022. O pai não pôde comparecer à colação de grau do primeiro membro da família a concluir o ensino superior, mas a mãe, o irmão e a cunhada saíram de Piracuruca para prestigiar, com orgulho, o feito de Jonas em terras cearenses.

O piauiense Jonas Alves, formado em Engenharia da Computação, foi o primeiro membro de sua família a concluir o ensino superior (Foto: Viktor Braga/UFC Informa)

Outro concludente da noite dessa terça-feira (7) era Marco César de Souza Melo, doutor em Psicologia pela UFC que somente agora conseguiu concluir a graduação na mesma área, iniciada lá em 2014. O graduado e mestre em Filosofia explica: “Entrei no curso de Psicologia como uma graduação que viesse a complementar minha formação [anterior] em Filosofia. Queria estudar o tema da subjetividade e, ao longo da minha graduação, participei de grupos de pesquisa sobre o tema da psicologia social, que já era o que eu trabalhava, de certa maneira, no campo da filosofia, com o meu mestrado em Filosofia Social e Política. Quando eu estava já no oitavo semestre de Psicologia, tentei a seleção do doutorado e fui aprovado. Quando isso aconteceu, suspendi a graduação e fui cursar o doutorado, em Fortaleza. Concluído, voltei para retomar e terminar a graduação”, rememorou.

Marco é professor concursado do estado do Ceará em Filosofia, ensinando em escola de ensino médio. Agora, como graduado e doutor em Psicologia, pretende migrar para a docência do ensino superior nessa área. “Inclusive, fui aprovado no último concurso da Universidade Estadual Vale do Acaraú. Ainda não fui convocado, mas estou na expectativa de ser chamado; e posso fazer outros concursos que, porventura, possam aparecer”, vislumbra.

Concludente Marco César já era doutor em Psicologia e retornou à UFC para concluir segunda graduação (Foto: Viktor Braga/UFC Informa)

DISCURSOS – Logo após a entrada do cortejo de autoridades acadêmicas no auditório do campus, que deu início à solenidade, o primeiro a discursar foi o concludente Francisco Cristóvão Epaminondas Silva Chaves, do curso de Psicologia. Tomado pela emoção, o orador discente da noite considerou um equívoco, a princípio, ter sido escolhido como o representante dos formandos na cerimônia, ciente das adversidades por que passou para concluir a graduação.

Ao afirmar que falaria sobre luta sob um ponto de vista trágico-grego e otimista, “mas com zero intenção de ser um discurso coach”, Cristóvão fez um apelo aos concludentes. “Que tal uma atenção mais caridosa e organizada sobre nós mesmos? Lutar por condições em que o trabalho não nos esgote e nem nos adoeça só para tornar os extremamente ricos em ainda mais ricos, mas que, por outro lado, o nosso trabalho seja verdadeiramente o processo que nos transformou e nos transforma em humanos”, provocou.

O estudante Cristovão Chaves falou em nome dos discentes (Foto: Viktor Braga/UFC Informa)

E relembrando as distintas origens, orientações, tons de pele e realidades dos concludentes ali presentes, Cristóvão afirmou que na vida não se tem garantia de nada. No entanto, o desejo de lutar, com vontade e entrega, sempre haverá de estar presente. “É nessa perspectiva que trago a visão trágica grega e o ‘amor fati’. Estamos falando de amor como uma capacidade criadora, amor como afeto que aumenta em nós a capacidade e vontade de agir. O herói grego é aquele que, consciente ou não do seu fim trágico, ainda assim decide lutar. Mesmo que o destino não o pertença, o herói luta pelo seu desejo. Acho que podemos abraçar a nossa tragicidade e seguir profundamente nossos desejos assim como Psiquê. Com capacidade de criar, de agir e de lutar. Afinal, foi isso que nos trouxe até aqui”, encerrou sob aplausos.

Na sequência, o professor Wendley Souza da Silva, do curso de Engenharia de Computação, deu início ao seu discurso como orador docente relatando uma história pessoal. Seu avô, pedreiro, ferreiro e mestre de obras, trabalhou na construção de alguns prédios do Campus do Pici em Fortaleza. Seu pai, que começou a vida profissional como ferreiro, foi o primeiro de uma família de nove membros a concluir o ensino médio e, com a educação formal conquistada, passou em um concurso. Já Wendley e sua irmã foram os primeiros de uma grande família a entrar no ensino superior e a fazer mestrado e doutorado. 

Professor Wendley Silva, neto de pedreiro, relatou sua história pessoal com a Universidade: “Hoje eu leciono na UFC, que meu avô, há algumas décadas, ajudou a construir, literalmente " (Foto: Viktor Braga/UFC)

“Hoje eu leciono na UFC, que meu avô, há algumas décadas, ajudou a construir, literalmente. Por isso, quando há a oportunidade, eu sempre digo: a educação tem o poder de transformar você e o seu entorno direto e indireto”, garantiu. E conclamando os concludentes, afiançou: “A educação que vocês receberam não é apenas para benefício pessoal; afinal, vivemos em sociedade. Cada conhecimento adquirido, cada experiência vivida ao longo desses anos tem o potencial de transformar não apenas as suas vidas, mas as vidas das pessoas ao redor de vocês. Vocês estão saindo daqui como profissionais capacitados, mas também como agentes de mudança”.

FESTA E MISSÃO – O último discurso da noite foi proferido pelo reitor da UFC, professor Custódio Almeida. Considerando os concludentes como luzes acesas da Instituição, pois agora têm o DNA da UFC, o reitor lembrou que há 70 anos a vida dos cearenses é mais aberta ao mundo e rica de oportunidades por causa da UFC. Também recordou que a colação de grau é mais do que a aquisição de um diploma de ensino superior ou a conquista de uma profissão. “A festa de hoje celebra a própria Universidade e a sua missão. A principal razão desta festa são as conquistas geradas pelo grau alcançado: conquistas pessoais e coletivas, existenciais e sociais. Celebrar a Universidade é o mesmo que celebrar a liberdade e tudo aquilo que se associa a ela: a autonomia, a visão de conjunto, a maioridade intelectual”, anunciou o professor Custódio Almeida.

Fotos da Colação: https://www.flickr.com/photos/ufc-informa/albums/72177720320988000

Recorrendo à filosofia grega, que nos ensina há mais de 2 mil anos que o ser humano é um animal político e social, o reitor afirmou que, por consequência, “nunca seríamos humanos sozinhos, nem nunca seríamos felizes sozinhos. Ou seja, somente sendo públicos e coletivos, experimentando a diferença e a pluralidade na convivência com os outros poderemos nos encontrar e nos reconhecer como indivíduos e como sujeitos”. E alertou: “Não há liberdade com fome, com ódio de classe, com preconceitos de todo tipo, com exclusão, com opressão, com guerras”.

Reitor Custódio Almeida: “A festa de hoje celebra a própria Universidade e a sua missão” (Foto: Viktor Braga/UFC Informa)

Ao final, o reitor conclamou os presentes a defender a Universidade, “constantemente ameaçada pela ignorância”, encerrando seu discurso com um pedido: “Sejam felizes! Mas não esqueçam de lutar para que a comunidade seja feliz, porque ninguém poderá ser feliz sozinho”, concluiu.

O ciclo de colações de grau 2024.1, iniciado com cerimônias em Fortaleza no dia 31 de julho e em Sobral no dia 2 de agosto , terá continuidade nos dias 22, 23 e 24 de outubro, em Fortaleza; em 12 de novembro, em Russas; em 13 de novembro, em Quixadá; em 21 de novembro, em Crateús; e no dia 28 de novembro, em Itapajé, onde ocorrerá a primeira solenidade de formatura do campus.

Fonte: Secretaria de Comunicação e Marketing (UFC Informa) – e-mail: ufcinforma@ufc.br 

Link da Publicação: https://www.ufc.br/noticias/18977-ciclo-de-colacoes-de-grau-de-2024-1-e-reaberto-no-campus-de-sobral-com-a-formatura-de-54-estudantes