É difícil falar do processo educativo sem mencionar seu potencial inspirador. Ensina-se por prazer e com a paciência de quem acompanha um germinar de sementes, mas, sobretudo, ensina-se pelo exemplo. O verbo português “inspirar” tem raízes etimológicas no latim spirare, que na interpretação literal significa soprar ou insuflar. Curiosamente, o sentido figurado – aquele de inspirar alguém ou inspirar-se em outra pessoa – permanece carregado plenamente desse significante “pneumológico”. Também sopramos ou insuflamos no outro nossa essência. Esta, apropriada pelo interlocutor, poderá ter, em um único ou em diversos momentos, algo de profundo e expressivo em sua trajetória.
Qualquer um de nós é capaz de, em um breve e nostálgico exercício mnemônico, resgatar das lembranças um professor que nos inspirou a fazer determinadas escolhas. Assim como o futuro, muitas vezes, faz com que entendamos melhor nossos pais, esse mesmo correr do tempo traz à tona a importância do legado técnico, didático e, sobretudo, humano dos mestres que nos formaram.
O referido legado tem peso meritório quando, juntos, seguimos enfrentando uma situação-limite que, em escala mundial, já se prolonga há quase dois anos. Com dedicação, união e incansável labor, em paralelo a um extraordinário potencial de reinvenção, nossa comunidade seguiu permitindo à Universidade, em meio a uma pandemia global, cumprir sua tríplice missão: formar profissionais de alto quilate, produzir conhecimentos inovadores e compartilhar seus saberes com a sociedade, em benefício daqueles que a financiam.
Por isso, neste mês em que se felicitam os servidores públicos, estendemos as homenagens tanto aos membros de nosso corpo docente, a quem endereçamos esta nota, quanto aos de nosso quadro técnico-administrativo. É graças a vocês, que amparam nosso alunado, que a UFC permanece enquanto patrimônio sólido do povo cearense, responsável por 75% da produção científica de nosso Estado.
Nossos parabéns, aqui, direcionam-se aos professores e professoras e seu caráter multifacetado: os eternos aprendizes, já que se estuda muitíssimo ao ensinar; os educadores cotidianos, com sua disposição diária em sala de aula; os orientadores, com sua tutoria singular; os pesquisadores, investigadores dedicados a incansáveis horas em nossos laboratórios; os extensionistas, cujo trabalho amplifica nossa missão social e permite que se transborde os muros da Universidade. Não dispomos de espaço para citá-los em completude, embora pudéssemos seguir enumerando muitos outros ângulos desse ofício tão caro a todos nós.
Maior reconhecimento faz-se necessário e urgente a essa categoria, em um País que investe anualmente apenas US$ 2.110 por estudante (enquanto a média mundial é de US$ 6.873) e amarga tristes posições em rankings internacionais de qualidade da educação, como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA). O ponto de mutação, capaz de tornar esses índices apenas uma lembrança vergonhosa em nossa história, não passa e jamais passará por outro caminho que não a educação.
Essa reflexão faz reverberar a temática trazida por nossa Semana do Servidor em 2021, a saber, “Empatia e solidariedade: coragem para acreditar no amanhã”. Na rica troca oriunda do processo educativo, a capacidade de compreender o outro, respeitar sua realidade e acreditar na superação coletiva é o que tem nos salvado e, sem sombra de dúvida, seguirá impulsionando-nos.
“Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos”, disse o saudoso escritor luso José Saramago, em seu Ensaio sobre a cegueira. Pode não ter nome tal coisa, pode até ser mesmo intangível; mas, com certeza, há muito nela daqueles que nos ensinaram.
Saudamos, com carinho, todos os colegas docentes que fazem parte da UFC.
Prof. José Cândido Lustosa Bittencourt de Albuquerque – Reitor
Prof. José Glauco Lobo Filho – Vice-Reitor
Link da Publicação: https://www.ufc.br/noticias/16234-dia-do-professor-a-justa-homenagem-aqueles-que-nos-inspiram-pelo-exemplo